Em todos os crimes passionais famosos, cometidos desde a década de 60 no Brasil, verificam-se origens semelhantes. Geralmente a raiz do crime está em uma não correspondência amorosa por parte de vítima. Sentimentos de posse e de honra ferida, ciúme doentio, desequilíbrio emocional, e ódio perpassam todos os crimes desse tipo. Alguns casos merecem destaque, devido à sua repercussão nacional, como a “Fera da Penha” na década de 60; o caso de Doca Street, de 1976; o crime de Pimenta Neves em 2000; Lindomar Castilho em 1981; Daniela Perez em 1993; E os mais recentes, o caso Eloá e da advogada Mércia Nakashima. Em todos eles, a paixão se transformou em ódio e acabou em morte.
O caso de Neide Lopes, a fera da penha, de 1960, talvez o mais cruel de todos, envolve uma criança de 4 anos. Quando descobre que seu namorado, Antônio Couto, é casado, tem duas filhas e que não está disposto a abandonar a família, Neide se vinga, assassinando a filha mais velha dele. O fato de não suportar ser ‘a outra’ fez com que Neide descarregasse seu ódio em uma criança inocente. O que lhe rendeu uma sentença de 33 anos de prisão, dos quais cumpriu somente 15.
O assassinato da socialite Ângela Diniz, em 1976, também ficou nacionalmente conhecido. O sentimento de posse e a não aceitação do fim do romance, fez com que o namorado de Ângela, a “Pantera de Minas”, Raul Fernando do Amaral Street, conhecido como Doca Street, assassinasse a jovem com quatro tiros durante o réveillon daquele ano, em Búzios, no Rio de Janeiro. Qualquer semelhança com Lindemberg Faria não é mera coincidência, e sim o ódio provocado pelo orgulho ferido e um total desequilíbrio emocional.
Lindomar Castilho é outro exemplo de ciúme doentio, possessão e ódio. Ele assassinou friamente a ex-mulher, Eliana de Grammont, poucos dias após a formalização do divórcio. O criminoso indicou o seu primo, Carlos Roberto da Silva, como pivô de sua separação, e também se vingou dele com um tiro. Eliana e Carlos de fato mantinham um romance, que provocou o ódio de Lindomar. O assassino afirmou que no momento do crime se desligou da realidade em função da violenta emoção que sentia.
O ex-diretor do jornal o Estado de São Paulo, Pimenta Neves também merece destaque nesta lista. Ele assassinou a ex-namorada Sandra Gomide, em agosto de 2000, com dois tiros, após o término de um longo namoro. O assassino já havia apresentado problemas de desequilíbrio emocional e chegou a invadir a casa da ex-namorada, armado. Ele afirmou que a jornalista Sandra Gomide o traía. Hoje o criminoso cumpre a pena em liberdade.
Em 1993 a atriz Daniela Perez, 22 anos, foi morta com requintes de crueldade pelo colega, o ator Guilherme de Pádua e sua mulher Paula Thomaz. Daniela Perez recebeu 18 golpes de tesoura e teve quatro perfurações no pescoço, oito no peito e mais seis que atingiram pulmões e outras regiões. Condenados a 19 e 18 anos respectivamente cumpriram apenas 1/3 da pena e hoje estão em liberdade.
Seguindo a série de crimes passionais, vem o caso que chocou o país. Aconteceu em Santo André, em São Paulo, e é claro que não podia faltar o sequestro. O rapaz, inconformado com o término do namoro e tomado por um ciúme doentio, sequestrou e matou a ex-namorada. Lindemberg Faria manteve Eloá Cristina, de 15 anos, em cativeiro por 100 horas. O assassino disparou dois tiros contra a jovem, que morreu logo depois. Constituindo mais um caso de ciúmes, possessão e desequilíbrio mental.
A advogada Mércia Nakashima desapareceu no dia 23 de maio de 2010. Seu carro foi encontrado em uma represa de Nazaré Paulista (64 km de São Paulo) no dia 10 de junho, e seu corpo no dia seguinte. Mizael, ex-namorado da vítima, é acusado de homicídio triplamente qualificado, mas desde o início das investigações nega qualquer envolvimento com o crime. O vigia Evandro, acusado de ajudar Mizael, foi denunciado por homicídio duplamente qualificado. Ele chegou a falar, em depoimento à polícia, que combinou de ir buscar Mizael na represa no dia do desaparecimento de Mércia, mas depois mudou a versão e negou envolvimento com o crime.
Não se pode saber até que ponto uma pessoa rejeitada, enciumada e desequilibrada pode chegar. Nos diversos casos de crimes passionais, embora em diferentes circunstâncias, os criminosos têm sempre os mesmos motivos. Os assassinos continuam sendo tratados com impunidade. A maioria cumpre pena em liberdade ou cumprem apenas parte dela. A emoção violenta deve deixar de ser desculpa para crimes hediondos, uma vez que forte emoção e orgulho ferido são apenas os motivos destes.